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Macias: “A vida é muito curta para ser normal”

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Leo Macias é um colombiano que gosta de se definir como um “expatriado na Colômbia”. Depois de 20 anos trabalhando em grandes agências do Brasil, hoje ele está à frente da DDB Colômbia, que ajudou a transformar em uma das agências mais criativas do mundo. Nesse papo, voltamos à infância das mãos sujas de tinta e ao sonho adolescente de trabalhar em publicidade, falamos um bocado sobre criatividade – que ele define, por exemplo, como “a soma da curiosidade com a vontade de fazer” -, sobre trabalho (duro), sobre futuro, e sobre brasileiros e colombianos – com seus encantos muito próprios.

De que você gostava de brincar quando era criança?
Macias
– Eu sempre gostei muito de pintar, desde criança tenho lembranças de sempre, de alguma maneira, estar com um lápis de cor, ou se estava com um carrinho, brincava de pintá-lo, as mãos com tinta são uma muito boa lembrança.

O que queria fazer quando crescesse?
Macias
Desde os 14 aos eu já queria ser designer e trabalhar numa agência de publicidade. Eu cresci numa família que morava junta na mesma casa, avós, måe, irmã, tio – tio que era designer numa agência de publicidade e eu adorava vê-lo trabalhar, talvez tenha sido daí que começou a nascer esse sonho.

Tão cedo decidiu se tornar publicitário?
Macias
– Quando eu saía de férias na escola, desde os 12 anos eu pedia para aquele tio que trabalhava em agência de publicidade me deixar ir ajudar durante dois meses. Nessa época eu adorava o ambiente que se vivia nas agências de publicidade, pessoas pensando por todos os cantos, o barulho das máquinas de escrever, o cheiro de tinta dos ilustradores ao trabalhar com aerógrafo. Acho que aos 12 anos nasceu em mim o desejo de um dia ser um criativo numa agência de publicidade.

Quando você descobriu que era uma pessoa criativa?
Macias
– No início eu achava que publicitário era essa pessoa que desenhava bem, que pintava, que fazia coisas bonitas, mas eu nunca tive tanta habilidade para desenhar e sempre tentava compensar a minha pouca capacidade de desenhar incrivelmente por ideas. Desde o meu primeiro estágio como designer, se me pediam para criar uma logo para uma margarina, eu chegava era com a campanha, criava a ideia para vender a margarina e esquecia do logo, levava bronca do chefe. Mas era o que de fato eu gostava de fazer, talvez aí tenha percebido que, por mas que um designer tenha que ser criativo, minha vocação sempre tenha estado mais voltada para ser um criativo de publicidade.

O que é criatividade, para você?
Macias
- Criatividade nunca terá uma resposta única, mas para mim a criatividade é a capacidade que temos de ver o mundo de um ponto de vista que ninguém nunca tenha visto, é a capacidade de transformar um momento qualquer num momento inesquecível, é poder colocar valor em algo que todo mundo viu mas que ninguém viu, é não somente estar vivo, é estar vivendo, porque a vida é muito curta para ser normal.

Criatividade se aprende, se ensina?
Macias
– Muitas pessoas dizem que a criatividade é um dom que nasce com as pessoas, e na verdade pode até ser, mas eu acredito que a criatividade pode ser estimulada, criatividade não é uma ciência exata, por isso nunca se vai encontrar esse método infalível que promete ser criativo num curso. Mas acredito que a criatividade é a soma dos passos que damos pelo mundo, a soma das conversas que participamos, é a soma das exposições que vemos, é a soma da curiosidade com a vontade de fazer. Sempre digo que eu nunca vi vaca comendo carne, mas vejo publicitário comendo publicidade, e isso é uma cagada!

Como você veio parar no Brasil e por que voltou para a Colômbia?
Macias
– Eu tive um chefe quando morava em Bogotá, há 23 anos, que era brasileiro (Marcus Vinícius). Eu via os anuários de publicidade do Brasil que ele trazia, e eu sonhava em um dia aprender a fazer esse nível de publicidade. Era um momento em que os colombianos estavam saindo do país e indo morar nos Estados Unidos, o famoso sonho americano, e foi nessa mesma época que esse brasileiro regressou ao Brasil e me convidou para ir com ele para trabalhar na agência que ele estava montando (Central do Brasil). Eu tinha 20 anos, uma tonelada de energia para aprender, e outra tonelada de sonhos, eu não duvidei, aceitei a proposta e fui morar no Brasil. Na minha cabeça seriam uns 3 anos para aprender a língua, aprender a cultura e o método dos brasileiros de fazer propaganda. Na verdade sabemos que é a vida que manda, eu fui crescendo profissionalmente, e depois desses 3 anos saí dessa agência e fui buscar oportunidades nas multinacionais famosas do país, em São Paulo. Foi uma batalha enorme, mas consegui, fui crescendo com o trabalho. Tive chefes maravilhosos a quem devo muito do que sou hoje, com cada um deles eu aprendi muito, Hermes Ursini, Marcelo Gianinni, Tião Bernardi, Sergio Valente, Rodolfo Sampaio, JR Delboux, Hugo Rodrigues, Marco Versolato, e tantas pessoas incríveis com quem tive a oportunidade de trabalhar e aprender. O Brasil é uma máquina, tem talentos impressionantemente bons, mas quando fiz 40 anos decidi que queria sair do país e viver uma experiência de trabalho e vida fora. Apareceram algumas propostas em vários países, naquele momento eu trabalhava na DM9DDB e ao começar a filtrar as propostas, Juan Carlos Ortiz, que é o presidente da DDB para toda América, Estados Unidos e Espanha, me ligou e me fez um convite que eu nunca tinha imaginado. “Leo, a DDB da Colômbia tem um grupo de empresas que adquirimos nos últimos anos e gostaria que tivesse uma pessoa como você elevando a capacidade de business e de criatividade do grupo, então o que você acha de mudar para a Colômbia e ser o CCO Chief Creative Officer do Grupo DDB Colombia? Adicional a isso, ser membro do Creative Board de toda DDB internacionalmente?” A proposta foi incrível, e passados alguns meses de negociações mudei como expatriado para a Colômbia. Têm sido tempos maravilhosos, tenho tido muitas vitórias, ganhamos 15 novas contas só nos últimos 8 meses, fomos convidados pelo SXSW South By Southwest, o maior festival de inovação do mundo, para falar sobre inovação social, tivemos o único finalista em Innovation em Cannes da rede DDB no mundo. Temos feito um trabalho criativo e de negócios que nos deixa muito felizes. É engraçado, um colombiano expatriado na Colômbia. Mas essa é a história da minha ida para o Brasil e a minha volta para Colômbia.

O que os dois países têm em comum?
Macias
- Brasil e Colômbia têm coisas muito evidentes em comum, a alegria das pessoas, a musicalidade, a sua culinária, os problemas de transporte publico, mas os dois países têm uma coisa muito importante em comum, que é coisa de país de terceiro mundo, país de gente guerreira: gente que pela própria falta de recursos do primeiro mundo os obrigou a ser mais criativa do que a média.

E na publicidade, há algo em comum entre Brasil e Colômbia?
Macias
– Sim, Brasil e Colombia são países que estão exportando talentos para agências do mundo, e isso tem sido um ponto em comum entre os dois países: a capacidade criativa das pessoas.

O que a publicidade brasileira ensinou pra você?
Macias
– Em primeiro lugar, me ensinou a sua estética imcomparável a nenhum outro lugar do mundo. A alegria do país se vê impressa na direção de arte, e isso foi uma coisa muito importante para a minha carreira. Outra coisa é a capacidade brutal de produção dos brasileiros, isso não existe igual em nenhum outro pais: pessoas que têm iniciativa, mas que tem “acabativa”, e isso eu valorizo muito!

Você tem algum plano B?
Macias
– Eu tenho um “lado B” sim, e eu recomendo a todo mundo que tenha um lado B, algo que te oxigene, que te ajude a ver o mundo fora da caixa propaganda. O que eu escolhi foi a arte, sou artista plástico há mais de 15 anos, tenho junto com a minha esposa uma galeria de arte onde ajudamos artistas em começo de carreira, dando oportunidades de mostrar o seu trabalho para o mundo. Esse lado B tem sido muito importante para a minha vida, e não sei se um dia será plano A. Não pretendo abandonar a propaganda, que me faz tão feliz.

O que você faria se não fosse publicitário?
Macias
– Resposta clichê, mas é a minha resposta: o meu DNA me pede para estar de alguma maneira ligado à criatividade, talvez estivesse trabalhando em algum lugar que me permitisse mostrar o meu ponto de vista para o mundo, design, a prória arte que já faço, ou arquitetura – que sempre me chamou a atenção. Poderia estar fazendo mil coisas ligadas à critividade, mas não sei se seria tão feliz.

Que tipo de criativo é você? Como gosta de criar?
Macias
– Já mudei muito a minha maneira de criar, experimentei de tudo, mas acredito hoje que criar em grupo reduzido é muito importante para encontrar avenidas criativas relevantes, e na sequencia, no trabalho do craft para lapidar a ideia, estar sozinho tem me dado melhores resultados para depois compartilhar com o grupo e escolher, entre as diversas maneiras de interpretar essa ideia, a melhor de todas.

O que inspira você?
Macias
Me inspira a arte, me inspira a música, me inspira uma boa conversa com amigos, me inspiram histórias de pessoas guerreiras, me inspira ver gente que tem atitude positiva para com a vida.

O que desanima você?
Macias
Me desanima gente preguiçosa, a corrupção que vivemos, pessoas sem vontade de viver, pessoas acomodadas, pessoas que só reclamam.

Qual o seu trabalho mais memorável ou que, de alguma forma, mudou o rumo da sua carreira?
Macias
– Vários trabalhos marcaram muito a minha vida e, é claro, a minha carreira, mas desses poderia ressaltar três, cada um com a sua importância: o lançamento do Santander no Brasil com o conceito “Vamos fazer juntos”, foi uma coisa maravilhosa que fizemos na Talent e que o pais inteiro viu, foi uma referencia na categoria no pais por muito tempo. O segundo, com certeza, foi o meu primeiro leão de Ouro em Cannes para a Wickbold, ainda na Salles. E The Welcome Symphony para Johnsons, ainda na DM9DDB, foi muito importante porque foi uma ideia que começou no Brasil e conquistou o mundo.

O que você tem lido?
Macias
– Estou lendo um livro presente de uma amiga querida que se chama The Geography of Genious, de Eric Weiner, que trata dos lugares geográficos mais criativos e importantes para a humanidade, desde a Grécia antiga até Silicon Valley, muito bom.

O que tem assistido?
Macias
– Ando muito atrasado em series, mas uma que adorei foi Black Mirror, muito bem escrita e produzida.

O que faz quando não está trabalhando?
Macias
– Adoro tomar um vinho com a minha esposa e amigos, gosto de trabalhar na minha arte, gosto de fumar um charuto tranquilamente, gosto de viajar.

Quem são seus ídolos?
Macias
– Tenho muitos, mas vou começar pelos que inspiraram a minha vida: meus avós, por toda a inspiração que me deram nos anos mais importantes de minha vida, quando eu era criança. Eles foram um exemplo de amor, conduta, família, criatividade, eles foram demais na minha vida.
Tem o meu sogro, que é um monstro que nos inspira a todos com a sua vida de batalha e como saiu do meio do mato e conquistou o mundo, foda!
Na propaganda tenho muitos, destacaria o Gerry Graf, que é um gênio da simplicidade na propaganda, o David Droga, que dispensa explicações.
Por último e claro nunca menos importante, e impossível não reverenciar, vem Steve Jobs, pelo conjunto da obra. Sim, todo mundo fala que era um escroto, mas filtro dele a sua capacidade de abraçar e ir atrás de uma idea que podia mudar o mundo.

Qual o seu maior defeito?
Macias
– Sou muito duro com gente medíocre como pessoa ou como profissional.

E sua maior qualidade?
Macias
– Sou um realizador, faço acontecer, ajudo muito as pessoas a crescerem com o seu talento.

O que você admira nos brasileiros?
Macias
– Sua alegria de viver, sua música, sua ginga, seu coração aberto a receber todo mundo como se fossem amigos de toda a vida.


O que prefere nos colombianos?
Macias
– Não é que prefira, mas gosto muito nos colombianos do seu jeito demasiado educado de tratar as pessoas, coisas como, que le vaya bien, Dios lo bendiga, mucho gusto, si senhor, com todo gusto, es muito lindo de ouvir, adoro isso.

Como você se vê velhinho?
Macias
– Me vejo ao lado de Thais, minha esposa, desfrutando de todo o esforço que temos feito juntos, me vejo rodeado dos meus amigos também velhinhos dando gargalhadas, me vejo enrugadinho como todo velhinho, mas sendo recordado com carinho pelo que fiz quando jovem.

art by Leo Macias


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